Ideias sobre
cinema, clichês e continuações
Talvez
você ainda se lembre de quando olhava para a programação do cinema e ela não
estava cheia de títulos que recuperam filmes anteriores, como “Gente Grande 2”,
“Wolverine: imortal” e “Percy Jackson e o mar de monstros” (usando de exemplo
os filmes desta semana). Esta não é uma “invenção” desta década, mas não me
lembro de ter observado isto com tanta frequência quanto nos últimos anos. É o
processo de reciclagem de um hit…
O Poderoso Chefão foi um dos primeiros filmes
a usar o numeral para indicar uma continuidade – e ainda assim, Coppola foi o
primeiro a admitir que não havia a necessidade de transformar a adaptação do livro
em uma trilogia: “Uma vez que um filme já mostra a que veio e todas as suas
novidades, a medida que você faz um segundo, terceiro, quarto, você deixa a
história menos interessante”. [Fonte]
Com
algumas ressalvas, pode-se observar que essas “continuações” dão ao seu público
exatamente o que ele está esperando: uma edição revisitada do filme que gostou,
com os personagens que o cativaram e conflitos similares. É um “sempre mais do
mesmo” que parece vir para provar que tramas previsíveis e enredos clichês tem
espaço de sobra no “mercado”. A arte de massa, como mero entretenimento, parece
vir para incomodar quem a consome o mínimo possível, dificilmente saindo do seu
“quadrado” e extrapolando suas expectativas. O elemento surpresa se apoia muito
mais em tecnologias novas, efeitos especiais e cortes rápidos – geralmente dando
ideia de dinamicidade – do que no enredo. Arriscar-se ao desenvolver a história,
ou mesmo a forma como ela é contada? Muito pouco; apenas o bastante para lançar
uma franquia nova e reaproveitá-la nos próximos filmes.
Meu
objetivo aqui, observe-se, não é apenas gongar “franquias de cinema”, mesmo
porque eu seria hipócrita ao dizer que não as consumo, nem me divirto. A
pergunta que eu faço é: até quando o público vai se contentar com enredos
pobres, facilmente deduzíveis e pouco criativos? Até quando tecnologias
ultra-realistas serão o bastante para tornar um filme interessante?
Como a literatura, uma
das características mais interessantes do cinema, ao meu ver, é a capacidade de
fazer o leitor-espectador se transportar a um universo que não é o seu,
ampliando sua visão de mundo e fazendo-o experimentar coisas que não viveu, ou
ao menos não da mesma maneira. O que mais me encanta é justamente a sensação de
deslumbramento, de descoberta e contato com algo novo. E produzir algo assim é
difícil, arriscado, mas não impossível. O meu apelo, na verdade, é ao
espectador: torne-se mais exigente em relação ao que você consome e tente fugir
do ordinário. Filmes pré-fabricados que se apoiam em tecnologia de ponta já
estão perdendo a graça. E dito isso, não dá para deixar de apontar que, logo
que o cinema surgiu, o filme de um trem chegando à estação – o que não é nenhum fato fora do comum – fez um sucesso estrondoso, literalmente
espantando o público por usar uma tecnologia nunca vista – décadas depois, nós já
passamos deste ponto, não?