quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Déjà vu

Ideias sobre cinema, clichês e continuações


Talvez você ainda se lembre de quando olhava para a programação do cinema e ela não estava cheia de títulos que recuperam filmes anteriores, como “Gente Grande 2”, “Wolverine: imortal” e “Percy Jackson e o mar de monstros” (usando de exemplo os filmes desta semana). Esta não é uma “invenção” desta década, mas não me lembro de ter observado isto com tanta frequência quanto nos últimos anos. É o processo de reciclagem de um hit

O Poderoso Chefão foi um dos primeiros filmes a usar o numeral para indicar uma continuidade – e ainda assim, Coppola foi o primeiro a admitir que não havia a necessidade de transformar a adaptação do livro em uma trilogia: “Uma vez que um filme já mostra a que veio e todas as suas novidades, a medida que você faz um segundo, terceiro, quarto, você deixa a história menos interessante”. [Fonte]

Com algumas ressalvas, pode-se observar que essas “continuações” dão ao seu público exatamente o que ele está esperando: uma edição revisitada do filme que gostou, com os personagens que o cativaram e conflitos similares. É um “sempre mais do mesmo” que parece vir para provar que tramas previsíveis e enredos clichês tem espaço de sobra no “mercado”. A arte de massa, como mero entretenimento, parece vir para incomodar quem a consome o mínimo possível, dificilmente saindo do seu “quadrado” e extrapolando suas expectativas. O elemento surpresa se apoia muito mais em tecnologias novas, efeitos especiais e cortes rápidos – geralmente dando ideia de dinamicidade – do que no enredo. Arriscar-se ao desenvolver a história, ou mesmo a forma como ela é contada? Muito pouco; apenas o bastante para lançar uma franquia nova e reaproveitá-la nos próximos filmes.

Meu objetivo aqui, observe-se, não é apenas gongar “franquias de cinema”, mesmo porque eu seria hipócrita ao dizer que não as consumo, nem me divirto. A pergunta que eu faço é: até quando o público vai se contentar com enredos pobres, facilmente deduzíveis e pouco criativos? Até quando tecnologias ultra-realistas serão o bastante para tornar um filme interessante?

Como a literatura, uma das características mais interessantes do cinema, ao meu ver, é a capacidade de fazer o leitor-espectador se transportar a um universo que não é o seu, ampliando sua visão de mundo e fazendo-o experimentar coisas que não viveu, ou ao menos não da mesma maneira. O que mais me encanta é justamente a sensação de deslumbramento, de descoberta e contato com algo novo. E produzir algo assim é difícil, arriscado, mas não impossível. O meu apelo, na verdade, é ao espectador: torne-se mais exigente em relação ao que você consome e tente fugir do ordinário. Filmes pré-fabricados que se apoiam em tecnologia de ponta já estão perdendo a graça. E dito isso, não dá para deixar de apontar que, logo que o cinema surgiu, o filme de um trem chegando à estação – o que não é nenhum fato fora do comum – fez um sucesso estrondoso, literalmente espantando o público por usar uma tecnologia nunca vista – décadas depois, nós já passamos deste ponto, não?